Rio+20 e o Problema do Lixo

Ações urgentes precisam ser tomadas para resolver, ou pelo menos minimizar, o problema global do lixo
Ações urgentes precisam ser tomadas para resolver, ou pelo menos minimizar, o problema global do lixo

“Desenvolvimento sustentável” – esse vem sendo o termo mais debatido e comentado nos últimos dias no Brasil. Isso porque no dia 13 de junho de 2012 se inicia a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e se estenderá até o dia 22. Esse evento irá definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.

E um dos principais desafios dos governos na área de gestão sustentável continua sendo o problema do lixo. Lixo pode ser considerado como restos de tudo aquilo que fazemos e que consideramos inútil, indesejável ou descartável. São aquelas coisas que não nos servem mais. Mas, será que tudo o que não serve mais pra você também não serve pra mim?

Sabemos que não é assim, o lixo é definido de acordo com a conveniência e preferência de cada um. É por isso que no lixo há uma grande diversidade de resíduos sólidos, vindos de diversas procedências. Mas a constituição do lixo mudou muito com o passar do tempo. Até a década de 60, o lixo não era considerado um problema, pois os materiais descartados pelo homem eram essencialmente latas de metais, vidros, papel e papelão. Esses materiais eram usados nas embalagens dos produtos consumidos e lançados em aterros sanitários.

Os aterros sanitários são locais com solo impermeabilizado, com sistema de drenagem para o chorume, onde camadas de lixo são cobertas com terra de modo alternado e sofrem compactação mecânica (com tratores), de modo a minimizar o acesso de vetores de doenças ao resíduo. Bactérias decompõem a matéria orgânica desse resíduo sólido.

No entanto, com o uso cada vez maior de polímeros plásticos, a situação relacionada com o descarte do lixo mudou. Visto que esse material é de baixo custo, praticamente inerte, flexível, não quebra e é impermeável, seu uso, principalmente em embalagens, se tornou indispensável para a sociedade em que vivemos. Por exemplo, você consegue se imaginar passando apenas um dia sem usar, tocar ou ver algo que não contenha plástico? Isso é praticamente impossível atualmente.

Imagem de um lixão a céu aberto

O problema ambiental gerado pelo uso desses polímeros é que eles representam um agente poluidor no sentido de que a maioria deles não é biodegradável, permanecendo no ambiente por cerca de 100 a 150 anos.

Com isso, a quantidade do lixo aumenta cada dia mais, agravando muito esse problema. Durante muito tempo o descarte de embalagens plásticas não recebeu a atenção necessária. A solução foi encarada como algo simples, onde bastava descartar o lixo em áreas mais distantes dos centros urbanos, denominados ‘lixões’.

Os lixões são locais afastados dos centros urbanos - geralmente valas - onde o lixo urbano ou industrial é acumulado a céu aberto, sem qualquer tratamento, sendo muitas vezes clandestinos. Dessa forma, o lixo contamina o solo e os lençóis subterrâneos de água, além de contribuir para a proliferação de insetos, ratos e disseminar diversas e graves doenças.

MAPUTO,MOÇAMBIQUE - maio de 2004: Uma criança com fome coleta lixo em um aterro sanitário*
MAPUTO,MOÇAMBIQUE - maio de 2004: Uma criança com fome coleta lixo em um aterro sanitário*

O pior de tudo é que existem crianças, adolescentes e adultos que moram e trabalham nesses lixões. Muitas dessas crianças são filhas de pais que nasceram ali que vivem em extrema pobreza. Muitos estão desnutridos, com pneumonia, doenças de pele, diarreia, dengue, leptospirose e ficam sujeitos a abuso sexual, gravidez precoce e uso de drogas.

  • Situação do Brasil:

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada em 1989 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e editada em 1991 (IPT/CEMPRE, 1995), são produzidos no Brasil 241.614 toneladas de lixo por dia. 76 % desse lixo fica a céu aberto nos lixões, 13% vai para aterros controlados, 10% para aterros sanitários, 0,9% do lixo passa por compostagem e 0,1% vai para incineração.

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Os aterros controlados do Brasil não possuem o solo impermeabilizado e também não possuem um sistema de dispersão de chorume e gases. E mesmo os aterros sanitários não tem sido eficientes, porque necessitam de constante manutenção, o que muitas vezes não é realizado.

Segundo dados mais recentes do Ministério do Meio Ambiente, fornecido no pelo site oficial da Rio+20, o Brasil conseguiu avanços no sentido do tratamento correto do lixo. Em 2000, os resíduos destinados aos aterros estavam em 35% e em 2008 foi para 58%. O número de coleta seletiva em 2000 era de 451 e em 2008 foi para 994.

No entanto, 50,8% dos munícipios não têm destino adequado para o lixo e ainda existem 2.906 lixões no Brasil.

Um avanço na política e gestão do lixo no Brasil foi conseguido em agosto de 2010, quando foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10), que regulamenta como deve ser feita a coleta do lixo, o seu destino final e o tratamento de cada tipo de resíduo. Uma meta importante estabelecida é a do fechamento dos lixões até 2014.

  • Lixo gerado na Rio+20

Eventos de grande porte, como a Rio+20, costumam gerar grande quantidade de resíduos sólidos. Por isso, o Governo brasileiro criou,  no âmbito do Comitê Nacional de Organização, uma Coordenação de Sustentabilidade; para analisar e propor ações para reduzir ou de alguma forma compensar os impactos ambientais e sociais gerados pela conferência.

Na questão da gestão dos resíduos sólidos, eles buscaram aplicar a política dos 3 R: reduzir, reutilizar e reciclar. E o que não for possível realizar dessa forma terá um tratamento e disposição finais adequados.

Inicialmente, o que for possível dos resíduos gerados será destinado às cooperativas de catadores. Inclusive alguns deles estarão no local do evento para atuarem como educadores ambientais. Haverá sinalização nos coletores em português, inglês e braile, sempre que possível.

Coleta seletiva para reciclagem

Outros tipos de lixo terão o seguinte destino:

  • Os resíduos não recicláveis serão dispostos em aterro sanitário;
  • Os resíduos compostáveis serão encaminhados para a produção de adubo;
  • As pilhas e baterias serão destinadas para reciclagem de seus componentes. Veja porque o descarte inadequado de pilhas pode prejudicar tanto o meio ambiente no texto “Descarte correto de pilhas e baterias na Rio +20”.
  • Breve conclusão:

Diante das informações apresentadas, vemos que o lixo é uma problemática internacional. E que vem sendo resultado da política de consumo adotada na maioria dos países, como é o caso do Brasil. Nessa “sociedade de consumo” é imperativo o consumo de muitos produtos, mesmo que sem necessidade, o que intensifica a utilização de produtos descartáveis. Além disso, a má distribuição de renda, o baixo nível de escolaridade e a não qualificação profissional fazem com que milhares de pessoas optem por viverem dos lixões.

É necessário repensar o tipo de desenvolvimento que vem sendo adotado no Brasil, em que se investe alto em produção, mas sem o acompanhamento e aplicação de planejamento ambiental.

O verdadeiro desafio pertinente à questão do lixo diz respeito a como não gerar tal lixo ou, ao menos, minimizar a geração.

Esperamos que essa Conferência possa trazer propostas eficientes que auxiliem a criação, efetivação e incentivo de programas de educação ambiental, reciclagem e coleta seletiva, para conscientização da população, das grandes indústrias e do governo. Além dos aspectos ambientais, devem ser enfocados também os aspectos sociais dessa questão.

É necessária muita reflexão, ações políticas, esforços, boa vontade pessoal e comunitária e conhecimento do assunto, para que se consiga conciliar o desenvolvimento associado com a sustentabilidade ambiental, a qualidade de vida e a igualdade social.

A Conferência Rio +20 visa à sustentabilidade


*Créditos da imagem: africa924 e Shutterstock.com

Por: Jennifer Rocha Vargas Fogaça

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