Gulags

O Gulag foi uma agência governamental da União Soviética encarregada de organizar uma rede de campos de trabalho forçado.

Prisioneiros executando trabalho forçado em um Gulag.
Prisioneiros executando trabalho forçado em um Gulag.

O Gulag foi uma agência governamental da União Soviética encarregada de organizar uma rede de campos de trabalho forçado, entre as décadas de 1920 e 1960. A origem do Gulag remonta ao absolutismo russo: o czarismo. Desde o século XVI, os imperadores russos utilizavam o trabalho forçado e o exílio em áreas remotas como formas de punição por crimes políticos. Estima-se que mais de 20 milhões de pessoas foram presas nos campos e mais de 2 milhões foram mortas.

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Resumo sobre Gulags

  • O Gulag foi uma agência governamental da União Soviética encarregada de organizar uma rede de campos de trabalho forçado, entre as décadas de 1920 e 1960.
  • Apesar de Gulag ser a sigla que nomeia a autoridade burocrática soviética responsável por administrar os campos de trabalho, é comum que no vocabulário popular se utilize a palavra como sinônimo dos campos propriamente ditos.
  • O Gulag foi criado no contexto da construção do comunismo soviético, o governo de Lenin, e continuou a funcionar como ferramenta de repressão política durante o governo de Stalin.
  • A origem do Gulag remonta ao absolutismo russo: o czarismo. Desde o século XVI, os imperadores russos utilizavam o trabalho forçado e o exílio em áreas remotas como formas de punição por crimes políticos.
  • A cientista política e historiadora Hannah Arendt definiu os Gulags como parte do sistema totalitário, no qual se pretende a dominação total do indivíduo e do Estado.
  • Historiadores como Dan Healey, Stephen Waetercroft e Steven Rosefielde apontam que pelo menos 1,6 milhão de pessoas foram mortas nos campos. Por outro lado, a historiadora Anne Applebaun afirma que pelo menos 2,7 milhões de pessoas foram mortas e mais de 28 milhões foram aprisionadas nos campos.
  • A obra “Arquipélago Gulag”, de Alexander Soljenítsin, foi vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 1970, e relata sua experiência de 11 anos como prisioneiro de um campo de trabalho forçado do Gulag, juntamente com os relatos de outras 237 pessoas.

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O que é Gulag?

O Gulag foi uma agência governamental da União Soviética encarregada de organizar uma rede de campos de trabalho forçado, criada durante o governo de Vladmir Lenin e amplamente utilizada durante o governo de Josef Stalin, entre as décadas de 1930 e 1960. O nome é uma sigla em russo para Autoridade Central dos Campos e mudou várias vezes ao longo do tempo.

Logotipo da agência Gulag, responsável pelos campos de trabalho forçado na URSS.
Logotipo da agência Gulag, responsável pelos campos de trabalho forçado na URSS.

Contexto histórico do Gulag

O Gulag foi criado no contexto da construção do comunismo soviético, o governo de Lenin, e continuou a funcionar como ferramenta de repressão política durante o governo de Stalin. Estima-se que cerca de 18 milhões de pessoas tenham sido aprisionadas em 53 campos e 423 colônias de trabalho existentes na União Soviética.

Outros historiadores, como o inglês Orlando Figes (Universidade de Londres), afirmam que 25 milhões de pessoas foram prisioneiras do Gulag entre 1928 e 1953.

Leia também: Tudo sobre os campos de concentração criados pelos nazistas

Origem do Gulag

A origem do Gulag remonta ao absolutismo russo: o czarismo. Desde o século XVI, os imperadores russos utilizavam o trabalho forçado e o exílio em áreas remotas (e de difícil sobrevivência) como formas de punição por crimes políticos. Existiu, inclusive, uma pena criminal prevista em lei que significava a prisão em um campo de trabalho forçado, chamada Katorga.

Também eram comuns as sentenças de exílio para regiões remotas, como a Sibéria, aplicadas a crimes políticos e muito comuns no contexto da Revolução Russa, tendo inclusive sido aplicadas a líderes bolcheviques como Lenin, Trotsky e Stalin.

No contexto da Guerra Civil Russa em 1917, Lenin e a liderança bolchevique utilizaram o modelo czarista como base para desenvolver seus campos de prisioneiros, que evoluíram para as colônias de trabalho forçado e os campos sob administração do Gulag.

Características dos Gulags

Apesar de Gulag ser a sigla que nomeia a autoridade burocrática soviética responsável por administrar os campos de trabalho, é comum que no vocabulário popular se utilize a palavra como sinônimo dos campos propriamente ditos.

Como característica dos campos, pode-se apontar:

  • terem sido ocupados por prisioneiros políticos e opositores do regime soviético;
  • basearem-se no trabalho forçado como pena por crimes políticos;
  • terem aprisionado, entre as décadas de 1930 e 1960, milhões de pessoas;
  • terem se tornado uma ferramenta de controle político do Estado soviético.
Mapa da URSS que mostra todos os campos do Gulag.
Mapa da URSS que mostra todos os campos do Gulag.

Como funcionava o Gulag?

O historiador Stephen Barnes explica as funções do Gulag através de quatro grandes eixos:

  • O moral: o Gulag serviria como forma de aplicar a violência como punição por discordâncias políticas, ideológicas e até de ordem pessoal no relacionamento com lideranças do Partido Comunista e das instituições do Estado soviético.
  • O político: o Gulag foi a principal forma de eliminar os adversários políticos do regime comunista soviético.
  • O econômico: o Gulag foi instrumentalizado como ferramenta econômica do desenvolvimento do Estado soviético, ou seja, os prisioneiros foram forçados a executar trabalhos que se reverteram no desenvolvimento econômico estatal.
  • O social: o Gulag foi usado como ferramenta de eliminação da oposição, de elementos hostis à ideologia e ao regime.

A cientista política e historiadora Hannah Arendt definiu os Gulags como parte do sistema totalitário, no qual se pretende a dominação total do indivíduo e do Estado. Nessa lógica, o objetivo de um sistema totalitário, como o comunista soviético, não seria simplesmente estabelecer limites à liberdade, mas abolir por completo a ideia de liberdade dentro da sua ideologia.

Do ponto de vista prático, o funcionamento de um campo do Gulag envolvia o trabalho forçado de seus prisioneiros em funções agrárias e como mão de obra em construções. As condições de vida, saúde e alimentação nos campos era precária, e muitos prisioneiros morreram por isso.

Prisioneiros de um Gulag executando trabalho de construção forçado.
Prisioneiros de um Gulag executando trabalho de construção forçado.

Mortes no Gulag

A historiografia debate intensamente sobre o número de vítimas dos campos do Gulag. Existe, em paralelo ao debate central, um acalorado debate ideológico entre os defensores do comunismo e seus opositores, o que leva a dificuldades na apuração e interpretação dos dados.

Apesar disso, historiadores como Dan Healey, Stephen Waetercroft e Steven Rosefielde apontam que pelo menos 1,6 milhão de pessoas foram mortas nos campos. Por outro lado, a historiadora Anne Applebaun afirma que pelo menos 2,7 milhões de pessoas foram mortas e mais de 28 milhões foram aprisionadas nos campos.

Gráfico com a evolução da quantidade de prisioneiros dos Gulags.
Gráfico com a evolução da quantidade de prisioneiros dos Gulags.

“Arquipélago Gulag", de Alexander Soljenítsin

Alexander Soljenítsin (1918- 2008) foi um historiador e escritor russo, famoso por ser abertamente opositor ao regime comunista soviético, o que levou a ter sua nacionalidade cassada em 1974 pelo governo. Entre suas principais obras se destaca “Arquipélago Gulag”, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 1970, na qual relata sua experiência de 11 anos como prisioneiro de um campo de trabalho forçado do Gulag, juntamente com os relatos de outras 237 pessoas.

Leia também: Fatores que levaram o comunismo soviético ao fim

Exercícios resolvidos sobre os Gulags

1. Leia atentamente o texto abaixo.

“Os nazistas tinham evitado qualquer denominação precisa, contentando-se com o termo vago de ‘Solução Final’, fundando o sistema concentracionário sobre o segredo e fazendo de tudo para eliminar quaisquer traços e vestígios, mas, por outro lado, impossibilitando a conspiração do esquecimento. Desde há muito sabia-se que o inferno estava na terra”.

(VINCENT, G. Uma História do segredo? In: PROST, A. e VINCENT, G. (Orgs.). História da Vida Privada. São Paulo: Cia. das Letras, 1992, p.222.)

Os soviéticos empreenderam uma política semelhante à nazista, adotada contra cidadãos e estrangeiros contrários ao regime comunista e sua ideologia. Assinale a alternativa que melhor descreve esse sistema.

A) Milhares de presos políticos do regime soviético foram transferidos para os “Gulags”, na Sibéria, sujeitos a trabalhos forçados.

B) O Holocausto, empreendido pelos nazistas, vitimou milhões de judeus em toda a Europa durante os anos da Segunda Guerra.

C) A perseguição, em toda Europa, aos imigrantes das colônias africanas e asiáticas por grupos radicais visava a sua expulsão do continente.

D) Os conflitos religiosos entre cristãos e muçulmanos ocorridos na Europa resultariam, décadas depois, em ações como os Atentados de 11 de Setembro de 2001.

A política emanada do Vaticano contra os movimentos culturais atingia principalmente os jovens com forte apelo ao socialismo e à revolução sexual.

Resposta: A. Os gulags eram campos de trabalho forçado existentes na URSS.

2. A cientista política e historiadora Hannah Arendt definiu os Gulags como parte do sistema totalitário, no qual se pretende a dominação total do indivíduo e do Estado. Nessa lógica, o objetivo de um sistema totalitário, como o comunista soviético, não seria simplesmente estabelecer limites à liberdade, mas abolir por completo a ideia de liberdade dentro da sua ideologia.

Com base nessa definição, pode-se afirmar que:

A) os gulags eram presídios comuns, para onde iam presos condenados em processos criminais

B) os gulags eram campos de trabalho forçado, utilizados como forma de perseguição a adversários políticos

C) os gulags eram campos de trabalho exclusivos para judeus

D) os gulags nunca existiram

Resposta: B. Os campos de trabalho forçado administrados pela Gulag eram utilizados como ferramenta de perseguição política.

Fontes:

APPLEBAUM, Anne. Gulag: uma história. São Paulo: Bertrand, 2022

SOLJENÍTSIN, Alexander. Arquipélago Gulag. Carambaia: 2019.

Por: Tiago Soares Campos

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