Anglicanismo, a Reforma Protestante inglesa

Com o Anglicanismo, a Inglaterra também aderiu ao protestantismo após o reinado de Henrique VIII.

Gravura de Henrique VIII, rei inglês que rompeu com a Igreja Católica no século XVI
Gravura de Henrique VIII, rei inglês que rompeu com a Igreja Católica no século XVI

A Reforma Protestante na Inglaterra conheceu um percurso histórico distinto dos processos verificados no continente europeu. A constituição do Anglicanismo, a doutrina protestante inglesa, não teve como eixo principal a crítica teológica aos dogmas e ações do clero católico. Os motivos que geraram o rompimento com o catolicismo na Inglaterra foram políticos, econômicos e também conjugais, sendo este último o que foi evocado para a ruptura.

O rei inglês Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica em 1534, após o papa Clemente VI negar-se a aceitar o pedido de divórcio do monarca inglês. Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, nobre espanhola. A união dos dois tinha resultado em apenas uma filha, mulher, sendo que outras cinco crianças haviam morrido. Tal situação contrariava o desejo do monarca em fazer um sucessor seu do sexo masculino.

O rei queria o divórcio para casar-se com Ana Bolena, uma dama da corte inglesa, com quem Henrique VIII já vivia há algum tempo. Como o papa recusou-se a aceitar o divórcio, o monarca inglês conseguiu-o em um tribunal nacional. Frente a isso, Clemente VI excomungou Henrique VIII. Este, por sua vez, decidiu pelo afastamento em relação a Roma, levando o Parlamento inglês a promulgar o Ato de Supremacia, em 1534. Através desse diploma, o rei inglês tornava-se o líder supremo da Igreja da Inglaterra, denominada Igreja Anglicana, nomeando os ocupantes dos cargos eclesiásticos e decidindo sobre assuntos de ordem religiosa.

A ruptura com Roma era também política. Henrique VIII era um católico fervoroso, havia sido declarado Defensor da Fé pelo papa Leão X, em 1521. O rei era também defensor dos sacramentos da religião, inclusive do matrimônio – por incrível que pareça, como veremos mais à frente. Mas sua primeira esposa era parente de Carlos V, que no momento lutava contra os protestantes dentro do Sacro Império Romano-Germânico. Caso o papa Clemente VI aceitasse o divórcio, desagradaria um de seus principais aliados naquele momento. Com o Ato de Supremacia, por outro lado, o monarca inglês fortaleceria seu poder político na Inglaterra, tirando de cena a influência que exerciam os bispos situados em Roma.

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No aspecto econômico, o Ato de Supremacia possibilitou a Henrique VIII confiscar todos os bens da Igreja e destinar à realeza o dízimo que antes se direcionava para a instituição religiosa católica. Já a imensa quantidade de terras da qual a Igreja Católica era proprietária na ilha britânica foi vendida ou entregue a nobres, comerciantes e fazendeiros. Tal medida prestigiou o rei principalmente entre a gentry, a pequena aristocracia ligada às atividades mercantis.

Entretanto, apesar da ruptura com Roma, a Igreja Anglicana mantinha uma estrutura hierárquica administrativa semelhante à da Igreja Católica, colocando no mesmo patamar do papa, por exemplo, o monarca inglês. As mudanças de doutrina religiosa, por sua vez, seriam efetivadas apenas a partir do reinado do filho de Henrique VIII, Eduardo VI, que reinou entre 1549-1553. Foram reformulados os rituais cerimoniais e a doutrina sofreu influência do calvinismo.

Conjunto de selos ingleses retratando Henrique VIII e suas seis esposas
Conjunto de selos ingleses retratando Henrique VIII e suas seis esposas.*

Mas não houve no anglicanismo um desenvolvimento linear, já que existiram tentativas de aproximação ao catolicismo durante alguns reinados, o que acabou resultando na eclosão da Revolução Puritana, na década de 1640. A consolidação da Igreja Anglicana e da Reforma Protestante na Inglaterra ocorreria apenas no reinado de Elizabeth I (1558-1603), que, dentre outras medidas, adotou apenas os sacramentos do batismo e da comunhão, negando a transubstanciação, a presença do corpo e do sangue de Cristo na eucaristia.

Como foi afirmado acima, Henrique VIII era defensor dos sacramentos, incluindo o matrimônio. Entretanto, o monarca inglês casou-se seis vezes! Ele conseguiu ter um sucessor masculino ao trono apenas no terceiro casamento. Duas de suas esposas morreram decapitadas, Ana Bolena e Catarina de Howard, depois de julgadas traidoras do rei por atividades extraconjugais.

* Crédito da Imagem: Neftali e Shutterstok.com

 

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Por: Tales Pinto

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