A distinção entre antecipações e interpretações da natureza para Francis Bacon

Francis Bacon estabeleceu uma distinção entre “antecipações e interpretações da natureza” que é importante para a compreensão do seu pensamento.

Francis Bacon estabeleceu uma distinção importante para o método científico entre “antecipações e interpretações da natureza”
Francis Bacon estabeleceu uma distinção importante para o método científico entre “antecipações e interpretações da natureza”

 Francis Bacon nasceu em Londres, em 1561, em uma família de nobres, o que deu a ele um acesso privilegiado à corte. Ingressou na Universidade de Cambridge aos doze anos e, aos dezesseis, já havia se desencantado com a filosofia aristotélica.

Sua carreira política floresceu no reinado de Jaime I e só a abandonou após ser condenado por corrupção. Com a intensa atividade política, Bacon conciliava uma intensa atividade intelectual: sua primeira obra publicada foram os Ensaios, em 1597. Nela, apresentou suas análises sobre a vida moral e política. Em 1602, publicou Temporis partus masculus (O parto masculino do tempo), uma obra na qual defendia a tese polêmica de que célebres filósofos da Antiguidade, como Aristóteles, Tomás de Aquino e Paracelso, eram moralmente culpados de não terem o respeito necessário à natureza.

Em 1608, Bacon iniciou a escrita da sua obra mais conhecida, o Novum Organum, que foi publicada apenas em 1620. O Novum Organum foi pensado como parte integrante de um projeto mais ambicioso, a Instauratio Magna, não realizado.

O método indutivo tradicional, o método dedutivo e o método indutivo de Bacon

O método indutivo e o método dedutivo são duas formas de raciocínio que foram usadas, no decorrer da história, para a formulação de conclusões científicas. Pelo método dedutivo, a conclusão é sustentada por uma afirmação ou mais de uma afirmação. Essas afirmações são chamadas de premissas. No método dedutivo, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também será verdadeira. Por exemplo:

Premissa 1: Todos os irmãos de Paulo têm olhos azuis.

Premissa 2: Raul é irmão de Paulo.

Conclusão: Raul tem olhos azuis.

Assim sendo, se todos os irmãos de Paulo têm olhos azuis, e Raul é irmão de Paulo, Raul tem olhos azuis. Há uma relação, portanto, entre as premissas que nos permite chegar a uma conclusão.

Pelo método indutivo, as premissas são mais particulares do que a conclusão. Por exemplo:

Premissa 1: Raul tem olhos azuis.

Premissa 2: Raul é irmão de Paulo.

Conclusão: Todos os irmãos de Paulo têm olhos azuis.

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Podemos observar que as duas premissas são particulares e, por meio delas, obteve-se uma conclusão geral que pode ser verdadeira ou não. Não é porque Raul tem olhos azuis e é irmão de Paulo que podemos afirmar com precisão que todos os irmãos de Paulo tenham olhos azuis. Aliás, nem podemos saber, por meio das duas premissas, se Paulo tem outros irmãos.

É precisamente isso que Bacon considera uma grande falha do método indutivo tradicional: ele apenas enumera fenômenos ao alcance da mão e, a partir deles, elabora uma conclusão universal. Com isso, corre-se o risco de que as conclusões sejam incipientes e que postulem teses contraditórias.

Por isso, Bacon criou um método, o método indutivo puro, que se baseia na análise dos fenômenos a partir dos experimentos. Apenas após a realização desses experimentos é que se chega a conclusões. Assim, Bacon visava a combater o risco de se formular generalizações que não poderiam ser comprovadas e validadas. Esse método de Bacon era constituído das seguintes etapas:

a) observação da natureza;

b) organização racional dos dados observados;

c) formulação de hipóteses a respeito dos dados;

d) comprovação das hipóteses por meio de experimentações repetidas.

Com esse método, Francis Bacon não produziu nenhuma descoberta, mas, mesmo assim, foi de grande importância para o desenvolvimento do método científico.

A distinção entre antecipações e interpretações da natureza

Francis Bacon estabeleceu uma distinção entre “antecipações e interpretações da natureza”. A “antecipação” é o procedimento que o homem mais utiliza para conhecer a natureza. As noções desse processo são tiradas por meio de poucos exemplos, mas que são familiares a todos, repetidos pelo hábito.

Desse modo, essas noções conseguem angariar concordância com grande facilidade. No entanto, essas noções são falsas e, a partir delas, a ciência não pode progredir. Essas noções falsas, preconceitos, são aquilo que Bacon se refere como “ídolos”. Para ter um avanço científico, o intelecto precisa livrar-se deles, pois todas as noções falsas atrapalham o desenvolvimento da ciência.

A interpretação da natureza é o processo racional que se desenvolve a partir de exemplos variados e distantes entre si. Há um método que leva a essas interpretações, que é o método indutivo puro. Por meio dele, as interpretações podem contribuir para o avanço científico à medida que partem da realidade.

O processo de interpretação da natureza é constituído de duas fases: na primeira fase (a pars destruens), é preciso limpar a mente dos ídolos, as falsas noções que invadiram o intelecto humano. Na segunda fase (pars construens), é preciso explicar e justificar as regras do único método pelo qual a mente humana pode conhecer a realidade.

Por: Wigvan Junior Pereira dos Santos

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